Um adolescente de 17 anos na Holanda desenvolveu um caso raro de síndrome da língua estrangeira (SLE), também conhecida como síndrome do sotaque estrangeiro (SSE), após passar por uma cirurgia no joelho.
O jovem foi internado após sofrer uma lesão jogando futebol. A operação correu normalmente, mas, ao acordar da anestesia, o paciente apresentou um comportamento inesperado.
O garoto não reconheceu os pais, acreditava estar nos Estados Unidos e falava apenas inglês — idioma que havia aprendido apenas nas aulas escolares, em uma escola não bilíngue. O holandês, sua língua nativa, parecia ter sido completamente esquecido.
“A língua nativa do paciente era o holandês, e sua segunda língua era o inglês. Esta última foi adquirida em uma escola não bilíngue, durante aulas regulares de inglês. Ele falava apenas inglês durante essas aulas. Ele havia falado exclusivamente holandês durante toda a vida, inclusive na manhã da cirurgia”, escreveram os médicos no relatório de caso, publicado no Journal of Medical Case Reports em 2022.
Avaliação psiquiátrica e diagnóstico raro
Inicialmente, os médicos cogitaram um quadro de delírio pós-anestésico, condição que pode ocorrer após cirurgias e costuma durar menos de 30 minutos, mas o adolescente permaneceu confuso por horas.
Psiquiatras foram convocados para avaliar o paciente. Durante as conversas, ele respondia às perguntas em inglês com sotaque holandês, e, quando tentava falar em holandês, demonstrava dificuldade. Os profissionais então concluíram que o caso dele era compatível a síndrome da língua estrangeira.
Exames neurológicos foram realizados, mas nenhuma anomalia foi identificada no cérebro do jovem. Ele recebeu alta um dia depois.
Recuperação rápida, causa indefinida
Dezoito horas após a cirurgia, o adolescente voltou a entender o holandês. No dia seguinte, quando amigos o visitaram, já se comunicava normalmente em sua língua nativa. Três semanas depois, em um acompanhamento, os médicos relataram que ele estava totalmente recuperado, sem dificuldades para falar ou compreender o idioma.
Apesar da recuperação rápida, o caso segue sem explicação clara. Os médicos afirmam que o paciente lembrava de tudo o que ocorreu após a cirurgia, inclusive do momento em que percebeu que não reconhecia os pais e achava estar nos Estados Unidos. Também relatou que sabia estar falando inglês, mas não conseguia entender ou falar holandês no pós-operatório imediato.
O que é a síndrome da língua estrangeira?
A síndrome da língua estrangeira é considerada extremamente rara. Segundo o relatório, até a publicação do caso, apenas oito episódios haviam sido registrados — este foi o primeiro em um adolescente.
A neurocirurgiã Renata B. de Faria Cavalcante, do Hospital Sírio-Libanês, explica que a condição costuma surgir após lesões em regiões cerebrais responsáveis pela linguagem, como o lobo frontal ou a área de Broca, região do cérebro humano que está relacionada à produção da fala.
As causas mais comuns incluem acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo craniano, cirurgias neurológicas, tumores e infecções cerebrais. Também pode ocorrer em contextos psiquiátricos, mesmo sem lesões estruturais visíveis.
“Não se trata de realmente adquirir uma nova língua, mas sim uma alteração na prosódia da fala – ritmo, entonação e articulação – que faz com que pareça um sotaque estrangeiro”, explica a médica.
Em relação ao caso do adolescente, a médica afirma que a anestesia por si só dificilmente causa o problema. “No entanto, se houver complicações neurológicas associadas à anestesia, como um AVC, hipóxia ou outro tipo de lesão cerebral, a síndrome pode ocorrer”, esclarece.
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