O atacante Igor Paixão, ex-Coritiba e atualmente no Feyenoord, da Holanda, se manifestou nesta terça-feira (29) em seu Instagram após ter sido chamado de "descendente de escravos" em reportagem escrita pelo jornal espanhol As.
Na última segunda-feira (28), o diário espanhol publicou reportagem sobre o jogador brasileiro, como prévia do duelo entre Feyenoord e Atlético de Madrid, pela Champions League. O título foi colocado da seguinte forma: "Igor Paixão, o descendente de escravos que ameaça o Atleti".
No texto, a matéria contava sobre a origem de Paixão, que vem de família quilombola. No entanto, o título causou enorme repercussão negativa, com torcedores de todas as nacionalidades criticando o As em suas redes sociais.
Horas depois, o enunciado foi alterado, com a expressão "descendente de escravos" sendo retirada.
Em seu Instagram, Igor Paixão publicou um longo texto (leia completo abaixo), no qual afirma que o título é uma mostra do "preconceito" carregado "por gerações e gerações".
"Nem sempre eles disfarçam, nem sempre são sutis e nem sempre são espertos. Às vezes são explícitos e descarados, resultado de anos e anos de impunidade. E esperam o momento certo para destilar o preconceito que carregam dentro de si", escreveu o atleta.
Até o momento, o As não emitiu qualquer posicionamento ou pedido de desculpas ao brasileiro.
Vendido pelo Coritiba ao Feyenoord no ano passado, Igor está em sua 2ª temporada no futebol holandês.
Na atual temporada, ele soma 3 gols e 3 assistências em 19 partidas pelo time de Roterdã.
Confira o texto de Igor Paixão:
Eles sempre se disfarçam. Por meios de palavras elegantes, de dinheiro, de formas de se portar e até mesmo dos cargos que ocupam.
Eles são sutis. Nem sempre deixam a mostra todo o preconceito que carregam por gerações e gerações.
Eles são espertos. Porque na maioria das vezes se safam ao cometerem um dos mais hediondos crimes da história: o racismo.
Mas nem sempre eles disfarçam, nem sempre são sutis e nem sempre são espertos. Às vezes são explícitos e descarados, resultado de anos e anos de impunidade. E esperam o momento certo para destilar o preconceito que carregam dentro de si.
Nesta semana, foi a vez do Jornal As, do país onde joga meu companheiro de profissão, de vida e de cor, Vinicius Junior, que sofre diariamente com o ódio de quem simplesmente não aprendeu a superar um mal que jamais deveria ter existido, mas que há tanto tempo é criminoso.
Ao falar de minha trajetória, logo no título, o racismo "não-tão-velado": o descendente de escravos.
Fosse por minha realidade humilde, a mesma de muitos dos meus companheiros. Fosse por minha cor, a mesma de grande parte do mundo. Fosse por minha forma de ser ou a "ameaça" que trago a eles. Fosse pelo que fosse, só há uma palavra para descrever isso: racismo.
Se somos descendentes de escravos, o somos porque fomos escravizados. Nos roubaram de nossas casas, de nossas famílias, de nosso livre arbítrio e de nossas vidas. Mas hoje não somos mais.
Somos livres para pensar, falar e ser o que queremos, e isso ninguém irá roubar de nós.
Sutis, como são, dirão que "entendi errado o contexto", e irão disfarçar "tirando o texto do ar", e de forma esperta continuarão fazendo, com outros, e me tornarão um alvo.
Mas tudo bem. Porque juntos somos mais fortes. Sempre seremos mais fortes. E nunca, nunca mais, caminharemos sozinhos.
Racistas jamais passarão.
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