Líderes do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados reconhecem as falhas do governo federal em relação à articulação política e defendem a necessidade de ajustes na forma como estão sendo conduzidas as ações.
A gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido alvo de críticas por parte dos deputados federais, principalmente do centrão, em relação à falta de articulação política.
Os parlamentares reclamam da demora do governo federal no pagamento de emendas e na nomeação de indicados para cargos, da ausência de comunicação sobre as viagens de Lula e ministros aos seus redutos eleitorais, além da dificuldade em obter diálogo com os ministros.
Alguns já defendem uma reforma ministerial para incluir mais partidos na coalizão governista.
No entanto, tanto o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), quanto o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), têm sido poupados das críticas pelos seus colegas.
Ambos têm sido elogiados por seus esforços em buscar consensos, embora nem sempre contem com o apoio total do governo, de acordo com líderes do centrão ouvidos pela CNN.
Zeca Dirceu afirmou que os atrasos na análise da medida provisória para a reestruturação do governo federal ocorreram mais por questões políticas do que por divergências de mérito. O texto foi aprovado no último dia possível para não perder a validade.
"O governo está tomando decisões corretas, mas não está agindo com velocidade, abrangência e previsibilidade em relação aos deputados. Para mim, isso está muito claro. O governo decidiu fazer um governo amplo, negociar com o Congresso, dialogar sem impor nada", disse Zeca.
"Mas as pessoas precisam saber que 'isso vai acontecer esta semana, aquilo não vai acontecer hoje, mas vai acontecer daqui a 30 dias'. E quando chega esse prazo de 30 dias, precisa acontecer. Isso não está sendo constante", acrescentou.
Essa ponderação inclui até mesmo o envio de projetos de lei, que às vezes chegam à Câmara sem que a própria base governista saiba do que se trata, revelou a reportagem.
Questionado sobre a razão desse descompasso, Zeca Dirceu afirmou que é uma pergunta difícil. Na opinião dele, é preciso fortalecer o papel do ministro responsável pela articulação política, no caso, Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais.
As queixas dos deputados estão principalmente direcionadas aos ministros Padilha e Rui Costa, da Casa Civil. Uma ala da Câmara atribui especialmente a Rui Costa a demora na liberação de emendas e na distribuição de cargos na administração pública federal.
Nos bastidores, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defende que Lula se declare candidato à reeleição, mesmo que não o seja em 2026, para evitar a concorrência de possíveis adversários. Lira, que já manifestou essa opinião em caráter reservado, deseja que ministros como Fernando Haddad, Simone Tebet e o próprio Rui Costa não compitam entre si.
Após a aprovação da medida provisória de reestruturação, durante a sessão plenária, o líder José Guimarães agradeceu o apoio de Lira e dos demais líderes, mas também mencionou os problemas enfrentados pelos colegas.
"Agradeço àqueles que dialogaram, que entenderam, que deram crédito ao governo, mesmo diante das enormes dificuldades que enfrentamos nos últimos períodos, com demandas não atendidas, muitas vezes, com ministros que deixam os parlamentares esperando, com o que não foi encaminhado", declarou Guimarães.
De acordo com um vice-líder petista do governo na Câmara, que falou com a CNN sob condição de anonimato, não basta apenas trocar ministros, é preciso mudar a abordagem da articulação política. Em primeiro lugar, é necessário reconhecer que há um problema, algo que ainda não é aceito por todos os ministros, relatou.
A expectativa é que Lula se envolva mais diretamente nas negociações e passe a receber mais bancadas de parlamentares no Palácio do Planalto.
Na última segunda-feira (5), houve uma tentativa nesse sentido. O presidente pretendia se reunir com as principais lideranças da Câmara em seu gabinete. No entanto, a reunião foi cancelada porque vários líderes não estavam em Brasília. Além disso, Lira estava em compromisso em São Paulo.
Segundo o vice-líder do governo, foi um "erro infantil" do Planalto convocar uma reunião na segunda-feira à tarde em uma semana com feriado.
Questionado sobre por que Lula ainda não se envolveu de maneira mais ativa, o vice-líder afirmou que o presidente "achava que estava tudo bem" com a Câmara. Ele também considerou que as viagens em prol da política externa atrapalharam.
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