Em fala a apoiadores na última segunda-feira (11), o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o Brasil está prestes a comprar diesel mais barato da Rússia, em uma operação que tenta reduzir o valor do combustível nas bombas dos postos de gasolina.
"Na minha ida à
Rússia, acertei com fertilizantes para agronegócio, e agora também está quase
certo um acordo para comprarmos diesel bem mais barato da Rússia, onde a
Petrobras e alguns já compravam mais caro", afirmou o chefe do Executivo. "Está acertado, e em
60 dias já pode começar a chegar [diesel] aqui. Já existe essa possibilidade. A
Rússia continua fazendo negócio com o mundo todo, e parece que as sanções
econômicas não deram certo", declarou.
Logo após a fala, no entanto, alguns segmentos do mercado de
energia que atuam no Brasil demonstraram certo incômodo com um
eventual acordo e apontaram supostos entraves para a transação.
Isso porque a Rússia está bloqueada do principal meio de pagamento do
Ocidente: o sistema suíço SWIFT (sigla em inglês para Sociedade para
Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais).
Ao jornal Valor Econômico, o presidente da Associação
Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, declarou
que a compra seria "inviável" por esse motivo e que demandaria um
acordo diplomático com os Estados Unidos, uma vez que, segundo ele,
"bancos têm operações que envolvem a economia americana".
Pedro Rodrigues, sócio da consultoria Centro Brasileiro de
Infraestrutura (Cbie), disse em quadro conjunto com o site Poder360 que "um dos grandes empecilhos é o
isolamento do sistema bancário russo".
Contudo a SWIFT não é uma solução única e universal para esse tipo de
transação. Para Bruno Beaklini, cientista político e professor de relações
internacionais, o próprio sistema de pagamentos desenvolvido pela Rússia em
2014, chamado Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS,
na sigla em russo), pode — e deve — ser usado para efetuar os pagamentos.
"O sistema russo
de pagamentos (sobre o qual tenho artigos escritos) pode ser implementado, sim,
sem nenhuma dúvida. Aumentaria o grau de segurança para o importador brasileiro
se tivesse algum sistema de garantias. Vale observar o mercado brasileiro de
importadores de diesel: embora sejam várias empresas pulverizadas, somente três
empresas controlam 80% do mercado. Logo, esse oligopólio já é transnacionalizado
e já está muito preocupado com as sanções dos Estados Unidos. Então não é só
uma razão econômica: também é uma questão da política internacional e como
essas empresas são leais. Vale observar quais são as maiores empresas
brasileiras de diesel e quais são as empresas que compõem a Associação
Brasileira de Importadores de Combustível", apontou ele.
Fonte: sputnik brasil
0 Comentários