O gás de cozinha e os combustíveis viraram uma dor de cabeça dos brasileiros desde que sucessivos reajustes nos preços desses insumos energéticos despontaram nas contas cotidianas.
O cenário de tensão econômica suscita uma questão: o abandono de
refinarias e a venda de ativos da Petrobras têm ligação direta com a
atual crise? A Sputnik Brasil conversou com um especialista para interpretar a
questão.
O que era para ser um grande polo de petróleo foi
corroído ao longo dos últimos anos, sobretudo devido à Operação Lava Jato: o Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, teve o projeto
inicial abandonado pela estatal.
A duras penas, a sociedade sino-brasileira Kerui Método Construção e
Montagem tenta reconstruir o que restou do projeto original, segundo o jornal O Globo.
Outro grande projeto do qual a Petrobras decidiu abrir mão é a
refinaria de Bacabeira, no Maranhão, que seria a maior da América Latina. À
época, em fevereiro de 2015, a estatal atribuiu o abandono à falta de parceiros
e à revisão das expectativas de crescimento do mercado de combustíveis.
Após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), a estatal decidiu vender
parte de seus ativos, deixando de lado o interesse pelo refino e pela
distribuição para focar na exploração e na produção.
A política de preços — que é determinada pelo governo federal,
acionista majoritário, e não pelos acionistas privados da empresa petrolífera
nacional — foi mantida pelo atual presidente, Jair Bolsonaro (PL),
e pelo seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
No campo da divergência está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), atual líder das pesquisas que medem as intenções de voto para
o Planalto nas eleições deste ano.
Isso porque, caso ganhe a corrida presidencial, Lula promete reposicionar
a participação da Petrobras em seus próprios ativos, em uma tentativa de
mitigar os preços do gás de cozinha e dos combustíveis.
Mas até que ponto esse retorno da Petrobras para sua própria
rede de ativos e refinarias pode realmente ajudar a controlar esta e
outras possíveis crises dos combustíveis?
Para o vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras
(Aepet), Felipe Campos Cauby Coutinho, trata-se da "volta do que
ainda não saiu".
"O plano era de privatizar a Petrobras. Duas refinarias foram
privatizadas, mas elas podem ser reestatizadas em um próximo governo. Os custos
de exploração da Petrobras são baixos, e é possível que ela abasteça todo o
mercado nacional. A Petrobras não tem monopólio no Brasil, que foi retirado
pela Lei do Petróleo durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, em 1997. A questão é que as companhias privadas não se interessaram em
refinar o petróleo", explicou Coutinho à Sputnik Brasil.
A partir daí, ele aponta que o grande problema é o PPI.
Segundo ele, essa política arbitra os preços nas refinarias da
Petrobras como se os combustíveis tivessem sido importados. É feita uma
estimativa do preço pago ao refinador estrangeiro — a maioria da bacia do golfo
do México, nos EUA, lembra o engenheiro.
Em seguida, adiciona-se à conta o custo do transporte, as taxas
portuárias, os seguros, a margem de risco, com os lucros de toda a cadeia de
importação. Dessa forma, o PPI resulta no que é cobrado pelos combustíveis
vendidos nas refinarias da estatal.
A política adotada atualmente, de acordo com ele, tornou um pequeno
mercado relevante, que passa a ganhar muito dinheiro e inclusive fundou a
Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a fim de fazer lobby
pelo setor de importadores.
O PPI fez com que a Petrobras perdesse 30% do mercado nacional, que foi
ocupado pelo combustível dos Estados Unidos. Nossas refinarias competem com as
do golfo do México. A atual política de preços da Petrobras beneficia apenas a
cadeia dos importadores de combustível", aponta.
Por
consequência, argumenta, a ociosidade das refinarias aumenta também em
até 30% — o que acarreta a redução do processamento de petróleo e da
produção de combustíveis no Brasil.
Fonte: Sputnik basil
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